Wednesday, April 18, 2012

Escolas : Antero de Quental. o poeta e o filósofo ! Recursos






Antero de Quental
via Wikipedia

"Nunca povo algum absorveu tantos tesouros, ficando ao mesmo tempo tão pobre." 

Antero de Quental


Poeta e pensador do século XIX, Antero de Quental foi uma lenda em Coimbra. Mestre do soneto, defensor da Modernidade, o escritor fez parte de uma das mais ricas gerações de intelectuais portugueses. 

Tinha na sua natureza o mar das ilhas atlânticas dos Açores, o azul da bonança que, num instante, se levanta em ondas agitadas. Antero de Quental é esse espírito inquieto que vive entre “o sentimento e a razão, a sensibilidade e a vontade, o temperamento e a inteligência.”





 
Google Doodle 200º Aniversário de Antero de Quental 
https://www.google.com/doodles/


  • Google Doodle:

Verdade! Google homenageia com um Doodle o poeta e filosófo português Antero de Quental no seu 200º aniversário.


Depois de celebrar Fernando Pessoa, uma nova homenagem a outro grande poeta, mas também filsósofo português.




Antero de Quental [1855-1891]

  • Dados biográficos:

Quental nasceu em 1855, e estudou Direito em Coimbra, entre 1858 e 1864. Em 1865 publicou as Odes Modernas, envolvendo-se ainda na agitação académica, particularmente através da organização secreta "Sociedade do Raio", de que era presidente. 





Odes Modernas - 2ª edição
Antero de Quental. 1875
Livraria Internacional de Ernesto Chardron & Eugenio Chardron, 1875
Porto-Braga


Datam também deste período as suas manifestações de entusiasmo face aos movimentos sociais europeus, bem como a leitura dos grandes teóricos do Socialismo e dos filósofos da época, nomeadamente Proudhon e Hegel, que muito influenciaram o seu pensamento.






Geração de 70
Eça de Queiróz, Oliveira Martins, Antero de Quental, 
Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro e Teófilo Braga
 via Colóquio Internacional 150 anos Geração 70


Estudante em Coimbra, 
Antero envolve-se nas lutas académicas. O espírito revolucionário do jovem estudante de Direito fortalece nas leituras do novo ideário europeu que chegam com Proudhon, Hegel, Darwin, Goethe, Balzac… 

É desta altura a polémica conhecida por Questão Coimbrã, desencadeada pela carta que escreve intitulada Bom Senso e Bom Gosto contra Antero Feliciano de Castilho e o Romantismo dos velhos mestres. 

Esta nova corrente deu origem ao Realismo, um novo estilo literário de cariz mais crítico, social e humanitário, abrangendo diferentes concepções políticas, históricas e filosóficas.






Bloco da emissão 150 anos da Questão Coimbrã
emitido pelos Correios de Portugal
créditos CTT Portugal

O grupo de Coimbra, a base da Geração de 70,  a que pertenciam Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Teófilo BragaManuel de Arriaga, entre outros, irá depois reencontrar-se em Lisboa.
Em 1871 nascem as Conferências do Casino em que Antero apresenta “As Causas da Decadência dos Povos Peninsulares”. Os ataques que faz ao estado do país são tão violentos que as conferências são proibidas. 



Quental, Antero de, 1842-1891
[Com os mortos]
[1885]; [Vila do Conde]; [1] p. em [1] f.; aut.

Antero vive, a partir de 1873, atormentado por uma doença que o deixa debilitado no corpo e na alma. Isola-se em Vila do Conde. 
Acabará por se suicidar aos 49 anos, em 1891, sentado num banco de jardim na ilha onde nasceu. Ilha de S. Miguel, Açores.







Odes Modernas 2º edição
Antero de Quental, 1875
Livraria Internacional de Ernesto Chardron & Eugenio Chardron, 1875
Porto-Braga


Ligado à poesia realista e simbolista com as Odes Modernas (1875) que se integram no programa de modernização da sociedade portuguesa desenvolvido pela Geração de 70, à qual pertence. 

Antero rompe com toda a poesia tradicional portuguesa, onde são banidos o romantismo, o sentimentalismo e a religiosidade lírica, e surgem, com força, as ideias de liberdade e justiça.


 Mais Luz
Amem a noite os magros crapulosos,
E os que sonham com virgens impossíveis,
E os que se inclinam, mudos e impassíveis
A borda dos abismos silenciosos...

Tu, Lua, com teus raios vaporosos,
Cobre-se, tapa-os e torna-os insensíveis,
Tanto aos vícios cruéis e inextinguíveis,
Como aos longos cuidados dolorosos! (...)
Antero de Quental




Sonetos Completos
Anthero de Quental
Coimbra 1922
via In-Libris


Mas é nos Sonetos Completos (1886), que o melhor da sua poesia emerge, cruzando o Simbolismo de timbre ainda romântico com a poesia de ideias e com a reflexão filosófica, na expressão de conflitos íntimos e sociais que pessoalmente o levarão ao suicídio. 

Neste género literário- o soneto - Antero de Quental é equiparado a Camões e a Barbosa du Bocage.

Como já escrevi, fez parte da chamada "Geração de 70", grupo que pretendia renovar a mentalidade portuguesa, e participou nas "Conferências do Casino". Foi amigo, entre outros, de Eça de Queirós e Oliveira Martins. 






Poesia Completa
Antero de Quental


Bibliografia:


O seu primeiro livro data de 1861 e intitula-se Sonetos, ao qual se seguiria, em 1865, Odes Modernas, origem da chamada Questão Coimbrã, anúncio polémico da Geração de 70, cujo “coração” seria, em grande parte, a personalidade, a personagem e o mito anterianos.





Sonetos
Anthero de Quental, 1861
Impressa Portuguesa,Porto


Poesia Completa de Antero de Quental pela primeira vez reunida na sua integridade e na sequência em que foi escrita ou publicada: a poesia «de combate» e «de amor e fantasia» (I, Odes Modernas e Primaveras Românticas); a poesia da «essência mais funda das coisas» (II, Sonetos Completos); e a poesia «indistinta» que, entre altos e baixos, foi acompanhando o poeta ao longo de toda «uma vida moralmente tão agitada e dolorosa» (III, Poemas Dispersos, Alterados ou Destruídos).

As suas obras vão da poesia à reflexão filosófica: Raios de Extinta LuzOdes ModernasPrimaveras Românticas, Sonetos, Prosas e Cartas.

Como poeta editou ainda, em 1886, Sonetos Completos que, nas palavras de Unamuno, “viverão enquanto viva for a memória da humanidade” (Letras Portuguesas).

 




Tendências Gerais da Filosofia
Antero de Quental
Fundação Calouste Gulbenkian
https://gulbenkian.pt/publications/tendencias-gerais-da-filosofia-na-segunda-metade-do-seculo-xix/


O seu último ensaio filosófico, Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX, foi publicado na Revista de Portugal, dirigida por Eça de Queirós, no primeiro trimestre de 1890.


A razão principal deste livro é revelar o manuscrito de “Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX” descoberto no rico acervo documental da Biblioteca Nacional.

É o mais importante escrito filosófico legado por Antero de Quental à cultura portuguesa.


À História
VI

Se um dia chegaremos, nós, sedentos,
A essa praia do eterno mar-oceano,
Onde lavem seu corpo os pustulentos,
E farte a sede, enfim, o peito humano?
Oh! diz-me o coração que estes tormentos
Chegarão a acabar: e o nosso engano,
Desfeito como nuvem que desanda,
Deixará ver o céu de banda a banda! (...)






As Fadas 
Antero de Quental
ilustração: Raquel Pinheiro


Educação:

  • Ensino Básico

A homenagem de Google, ligação às novas gerações, provocará certamente a curiosidade dos alunos mais jovens (Ensino Básico, 2º ciclo)

Poderia ser então ponto de partida para uma interessante introdução ao autor no mês profundamente dedicado aos livros, à poesia, e à literatura em geral.




As Fadas
Antero de Quental
in Tesouro Poético da Infância*

  • Poema "As Fadas": 

O poema foi composto para uma colectânea – Tesouro poético da infância – que Antero de Quental coordenou. Foi mais tarde recolhido em Raios de Extinta Luz, livro póstumo publicado em 1892, organizado por Teófilo Braga e onde este recolheu todas as poesias de Quental que conseguiu, mesmo algumas que o poeta tinha deliberadamente destruído mas das quais tinham subsistido cópias em mãos de terceiros.

Entre o Dia Internacional do Livro Infantil (blogue educativo currículos Língua Portuguesa, International Children's Book Day ou World Book and Copyright Day falar de Antero de Quental e da sua poesia poderá ser uma excelente motivação para  posterior aprofundamento do estudo da obra do autor.


  • Ensino Secundário






Odes Modernas
Antero de Quental, 2021






Os Sonetos Compçetos
Antero de Quental
    Porto Editora, 2016


Os Sonetos Completos

Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!


A imagem do "cavaleiro andante" em busca do mundo ideal é uma das representações possíveis da poesia de Antero de Quental, profundo conhecedor da alma humana. Se, por um lado, encontramos o eterno sonhador, por outro, deparamo-nos com a face noturna de quem se desiludiu pelo caminho…


Metas Curriculares de Português
Leitura obrigatória no 11.º ano.




Colecção Antero de Quental
BNPortugal



  • Recursos educativos digitais:


Antero de Quental dedica a sua colectânea de poemas a Germano Meireles em 1865, seu amigo pessoal e uma das principais figuras da Escola Coimbrã e da Geração de 70.

A obra oferece-nos uma visão evolutiva da história através de observações filosóficas acerca do homem e do universo, assumindo um desejo latente por mudança social.

Presenciámos aqui uma nova era literária, marcada pela irreverência cultural, na qual o autor assume um tom mais revolucionário, projetando uma nova imagem do mundo, "um novo conceito ativo de vida", e "novos meios artísticos".



Colecção Antero de Quental que a Biblioteca Nacional de Portugal disponibiliza onlineUm excelente recurso digital para complementar o estudo do autor, para os alunos do Secundário.


"A proposta de navegação pela Colecção de Antero de Quental, que agora se disponibiliza em linha, assenta na estrutura da inventariação dos espólios literários utilizada no Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea que distribui os textos em função da autoria e da tipologia dos documentos. 

Adaptando esse princípio à especificidade do acervo, inicia-se com os seus “manuscritos”, propondo de seguida a leitura das “cartas do autor” para, por último, introduzir o navegador num conjunto de documentos em que o próprio Antero é tema e não agente directo, a correspondência de terceiros."




Poemas Sinfónicos
Luis de Freitas Branco


Actividades: Música & Literatura

Para possível desenvolvimento de projecto transdisciplinar - currículos Música e Literatura Portuguesa - há uma belíssima obra do compositor português Luís de Freitas Branco, talvez a mais elevada personalidade musical da sua geração e uma das maiores da música erudita portuguesa.

O interesse do compositor pelo poeta e filósofo revolucionário oitocentista Antero de Quental revelar-se-ia ainda em obras como o poema sinfónico Solemnia Verba (1951), Hino à Razão (1932) ou Três Melodias sobre poemas de Antero (1934-1941). Composto em 1908, Antero de Quental seria revisto nos anos seguintes e apenas estreado a 11 de Abril de 1915, sob a batuta de David de Sousa, no Politeama, nos “Concertos Sinfónicos de Lisboa”. 

Obra programática de inspiração literária, o poema sinfónico Antero de Quental é uma peça notável e que, apesar de ser uma composição de juventude, revela um conhecimento técnico na linha pós-wagneriana de grande sofisticação.

Poderá levar a um estudo de enriquecimento curricular, integrado na perspectiva universal.







"Ao significado da sua obra notabilíssima, da sua personalidade fecunda e dominadora, há a juntar a verdadeira paixão que possuía pela Juventude, o entusiasmo com que via os novos triunfar, a sua luta diária, durante cinquenta anos, pelo renovamento, pela europeízação da cultura portuguesa, e ainda a generosidade do seu grande coração, sempre disposto a ajudar os que começavam e vivendo com o mesmo entusiasmo as obras dos próprios discípulos, que pretendia sempre colocar à frente das suas."

Joly Branca Santos



Para concluir esta minha curta abordagem que poderá ser desenvolvida na adaptação  aos currículos escolares de Língua Portuguesa e Literatura que cada professor lecciona, aqui deixo um dos sonetos de Antero de Quental:


Solemnia Verba

Disse ao meu coração: Olha por quantos 
Caminhos vãos andámos! Considera 
Agora, desta altura, fria e austera, 
Os ermos que regaram nossos prantos... 

Pó e cinzas, onde houve flor e encantos! 
E a noite, onde foi luz a Primavera! 
Olha a teus pés o mundo e desespera, 
Semeador de sombras e quebrantos! 

Porém o coração, feito valente 
Na escola da tortura repetida, 
E no uso do pensar tornado crente, 

Respondeu: Desta altura vejo o Amor! 
Viver não foi em vão, se isto é vida, 
Nem foi demais o desengano e a dor. 


" O espírito percebe o universo, não adaptando-se a ele, mas adaptando a si o universo, tal como ele se nos apresenta, é, no fundo uma criação do espírito: se existe para nós, é porque o concebemos: aparece-nos, não reflectido na consciência, mas verdadeiramente visto nela."

Antero de Quental





Antero de Quental  [1855-1891]
Poet and philosopher
credits: via Wikipedia


Education:


This is a publication about an important Portuguese writer founder of Realism in Portugal, Antero de Quental. One of the great masters of poetry. 

The Google Doodle honores Antero de Quental can be an interesting digital resource to introduce the author in Literature curriculum if you teach in Portuguese language.


G-Souto

18.04.2012
actualizado 11.04.2020
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Antero de Quental: homenagem Google by  bG-Souto is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.


Referências:

Colecção Antero de Quental |BN
http://purl.pt/14355/1/

Antero de Quental, a missão revolucionária da poesia
https://ensina.rtp.pt/artigo/antero-de-quental-a-missao-revolucionaria-da-poesia/

Luís de Freitas Branco

https://www.casadamusica.com/artistas-e-obras/compositores/b/branco-luis-de-freitas/#tab=0

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